Circuito do Vale Histórico inclui grutas e cachoeiras da Floresta da Tijuca

Quem visita o Rio de Janeiro sabe a sua importância para a história do Brasil. Afinal, que outra cidade das Américas pode dizer que foi a capital oficial de um império europeu? Ao mesmo tempo, quando falamos de um roteiro histórico, em geral não o associamos ao ecoturismo, como se a natureza não tivesse relevância na formação de um país. Um dos passeios que prova que isso não é verdade é o Circuito do Vale Histórico. Nele, além de passar por construções antigas e que revelam um pouco da história do Rio de Janeiro, é possível ter um contato mais íntimo com a natureza. Afinal, ele inclui o Caminho das Grutas e ainda passa por algumas cachoeiras da Floresta da Tijuca.

Circuito do Vale Histórico fica no Setor Floresta do Parque Nacional da Tijuca

Antes de conhecer um pouco mais o Circuito do Vale Histórico e a sua relevância na história do Rio de Janeiro, é preciso entender como começá-lo. O Parque Nacional da Tijuca, conhecido popularmente como Floresta da Tijuca, possui quase 40 km², e por isso é preciso situar-se corretamente para ir ao destino certo. Ele é dividido em 3 setores: Pedra Bonita e Gávea, Floresta e Serra da Carioca. Para este passeio, o caminho correto é o Setor Floresta, cuja entrada é ao lado da Praça Afonso Vizeu, no Alto da Boa Vista.

Poucos minutos após atravessar a guarita do parque, já é possível escutar a Cascatinha Taunay, que fica a aproximadamente 300 m da entrada. Ao lado há uma das primeiras placas do Setor Floresta, indicando quais trilhas podem ser percorridas e o que existe para ser visitado nessa parte do Parque Nacional da Tijuca. Lá já é possível ter uma primeira ideia do que será o passeio: muita natureza com uma pitada de história.

Mirante da Cascatinha oferece vista espetacular do parque

Embora na estrada principal seja possível ter contato com a floresta, é ao entrar em uma das trilhas que ela pode verdadeiramente ser sentida. Além de observar a mata local, é possível ver fungos e até alguns animais – não raro é possível cruzar com macacos nas árvores. Caso encontre com algum deles, lembre-se de nunca alimentá-los e apenas tirar fotos a uma distância mínima. Para ter uma experiência completa, com informações da fauna e flora e dicas de segurança, é importante contratar um guia local.

Uma das primeiras paradas do Circuito é no Mirante da Cascatinha, que não faz oficialmente parte do Circuito do Vale Histórico, mas pode ser combinado ao seu passeio. Nesse ponto, é possível ver a Cascatinha Taunay ao longe, em meio a uma moldura de mata fechada espetacular. Embora não seja um cartão-postal tão conhecido, as fotos tiradas no local não perdem em nada para as de outros pontos turísticos.

História da Floresta da Tijuca está no Circuito do Vale Histórico

Na continuação do passeio, o turista verá ruínas de algumas construções e outras que não se deterioraram e são utilizadas até hoje. Mas por que existiam casas no meio da floresta? Para responder a essa pergunta, temos que voltar ao período do Brasil Império. Conforme apontado pelo pesquisador Pedro de Castro da Cunha e Menezes e relatado em uma matéria da BBC Brasil, o Rio de Janeiro não estava preparado para receber a chegada de Dom João VI com a corte portuguesa em sua mudança para a cidade.

Com isso, o imperador vendeu terrenos na floresta a nobres e estrangeiros com posses, como franceses e holandeses. A partir daí, a mata foi sendo desmatada para a produção de carvão, e, posteriormente, abrir lugar para plantações de café. A longo prazo, o resultado foi desastroso. Sem a mata ciliar, os rios praticamente secaram, gerando uma crise hídrica na cidade em anos de pouca chuva.

Já no reinado de Dom Pedro II, com o Brasil há muito independente, a coroa desapropriou as terras, pagando indenizações aos fazendeiros e começou um projeto de reflorestamento. Em 1861, o Major Manuel Gomes Archer recebeu a missão de reflorestar a área desmatada, algo que fez ao longo de 13 anos com o auxílio de 5 pessoas escravizadas e alguns trabalhadores remunerados. Nesse período, foram replantadas mais de 100 mil mudas, advindas de um sítio do Major localizado em Guaratiba, Zona Oeste do Rio. Ao fim da missão, surgia o Parque Nacional da Tijuca: a mais antiga floresta urbana do mundo, e que segue até hoje como uma área de preservação ambiental.

Caminho das Grutas, da Floresta da Tijuca, faz parte do Circuito do Vale Histórico

Além de conhecer rapidamente a parte histórica do passeio, o turista ainda tem a oportunidade de passar por cavernas. Isso porque parte do Caminho das Grutas está dentro do Circuito do Vale Histórico. E é parte simplesmente porque algumas das grutas estão muito afastadas, valendo a pena visitá-las apenas se houver tempo de sobra. Afinal, é sempre preciso lembrar que o tempo de volta para a entrada do parque deve ser contabilizado.

Ao todo são oito grutas, sendo algumas das mais famosas a Gruta do Archer (que agora você já sabe que é uma homenagem ao Major Manuel Gomes Archer), a Gruta Bernardo de Oliveira e a Gruta dos Morcegos. Essa última chama a atenção pelo seu tamanho, já que possui mais de 100 metros de profundidade e é considerada a segunda maior gruta de gnaisse (um tipo de rocha) do Brasil.

Cachoeiras da Floresta da Tijuca também estão no Circuito do Vale Histórico

Além de mata, grutas e história, o passeio conta ainda com quedas d’água. Pois é, o Circuito do Vale Histórico passa por duas cachoeiras da Floresta da Tijuca bem famosas: Cascata Gabriela e Cachoeira das Almas. Em ambas é possível tomar banho, desde que sejam tomadas as devidas precauções. Em dias de muito calor, essas paradas são estratégicas. Além disso, com elas é possível ter uma experiência verdadeiramente completa do que é o Parque Nacional da Tijuca: uma verdadeira floresta no meio de uma grande metrópole.

Circuito do Vale Histórico costuma levar de 4 a 5h para ser concluído

Pensar em visitar tudo isso em um só dia parece impressionante, não é mesmo? Mas a boa notícia é que é possível, já que o Circuito do Vale Histórico leva de 4 a 5h para ser concluído, em média. Somado a isso, vale a pena acrescentar o Mirante da Cascatinha no caminho, já que a vista é realmente imperdível (tirando em dias com névoa, pois aí o visual desaparece). O tempo para finalizar o trajeto completo, claro, depende do condicionamento de cada um, mas a dificuldade do passeio é considerada moderada. Outro ponto positivo é que as trilhas não apresentam graus elevados de dificuldade, por isso elas podem ser percorridas por pessoas de diferentes idades, incluindo crianças e idosos, caso eles possuam bom preparo físico.

Caso você não more no Rio de Janeiro e não queira perder tempo, uma boa ideia é contratar um guia. Embora as trilhas sejam bem sinalizadas, nem sempre o caminho é óbvio para quem não está acostumado a esse tipo de passeio. Além disso, com um profissional qualificado você terá informações complementares sobre a fauna e flora observadas no trajeto. Com todas essas informações em mente, o que você está esperando para se aventurar nesse circuito?

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